Alessandria - Tradição e sabor local
Alessandria faz fronteira com as regiões da Lombardia, Ligúria e Emília-Romanha, caracteriza-se por um clima mediterrâneo único mais próprio do sul do país. Aqui a paisagem é muito diversa: delimitada ao sul pelos Apeninos Ligures e ao norte pela zona do Monferrato, famosa pelos seus vinhedos, por esta província percorrem rios exuberantes, vales imponentes e bosques frondosos compostos por castanheiras, carvalhos e faias.
Entre os rios Tanaro e Bormida situa-se a capital homónima da província. Fundada em 1168 com o nome de Civitas Nova, posteriormente passou a chamar-se Alessandria em homenagem ao Papa Alexandre III. Embora já tivesse habitantes na zona antes do estabelecimento da cidade, nasceu como uma fortaleza para defender a Liga Lombarda dos ataques do emperador del Sacro Império Romano Germânico, Frederico I. Entre 1174 e 1175 foi fortemente assediada pelo Império Germânico, e segundo a lenda um camponês muito astuto chamado Gagliaudo salvou-a de uma inevitável conquista. Gagliaudo alimentou a sua vaca com o último grão que restava na cidade e saiu da fortaleza ao encontro do exército inimigo. Quando as forças imperiais o capturaram, sacrificaram a sua vaca e encontraram o grão no seu estômago. O camponês conseguiu convencê-los de que havia tanta abundância de grãos na cidade que já não havia sítio para o seu armazenamento. O imperador Frederico I pensou que o assédio se podia alargar demasiado e decidiu retirar a suas tropas de Alessandria. Na catedral da cidade há uma estátua em homenagem a Gagliaudo. Em 1198 Alessandria foi declarada uma cidade livre, neste momento começaram os conflitos com outras comunas da região que duraram décadas, até que em 1348 passou a ser governada pelos Visconti e dominada a partir de Milão. Logo foi governada pelos Sforza e em 1707 cedida à Casa de Saboia, unindo-se a partir desse momento à região do Piemonte. Em 1800 foi conquistada pelos franceses, mas em 1814 os Saboia voltaram a reconquistá-la sob o Reino da Sardenha.
Apesar de ter pertencido a França durante um breve período, respira-se uma grande influência francesa em Alessandria. Localizada estrategicamente, sempre foi um importante centro de comércio e transporte. Ruínas romanas e medievais recordam-nos o seu passado de esplendor.
De grande tradição vitivinícola, a província de Alessandria deve começar a ser saboreada com os vinhos da terra: entre os tintos destacam-se os Barbera, a variedade de uva mais estendida no Piemonte que possui 2 vinhos com DOCG e 5 com DOC, entre os brancos merecem especial atenção o Cortese di Gavi, com DOCG, e o Timorasso, com DOC.
A sua cozinha evoca tradição local e os seus queijos são um bom exemplo disso, aqui ainda são produzidos artesanalmente queijo Robiola seguindo uma tradição de séculos que remonta aos fazendeiros celto-lígures. O Robiola, feito com leite de vaca, cabra e ovelha é elaborado principalmente na região montanhosa de Suol D’Aleramo. Outro queijo lendário é o Montébore, feito com leite de vaca e ovelha. Com mais de onze séculos de tradição, este queijo esteve a ponto de desaparecer, mas foi apresentado na Feira Internacional do Queijo onde conseguiu reconhecimento entre os especialistas de todo o mundo.
A tradição de Alessandria também se nutre das influências do seu meio. Quanto mais nos aproximamos do sul, mais sabores e aromas recordam-nos a Ligúria. Aqui têm a sua própria versão da “focaccia genovese”, a “focaccia novese”. Outros pratos de influência lígure são a “farinata”, o “pansotti”, o “corzetti” e o “ravioli ao tocco”.
Alguns dos enchidos da província gozam de prestígio internacional. Destaca-se o “filetto baciato di Ponzone” (que quer dizer “filete beijado”), um tipo de salame típico do Vale Bormida que se elabora misturando a carne de porco com a gordura do coração do filete sendo logo envelhecido em salmoura durante uns dois meses. Outro enchido muito popular é o “testa in cassetta”, feito com as partes magras da cabeça, a língua, a banha das bochechas de porco e uma mistura de diferentes salames.
Mas não só de antipasto pode gabar-se Alessandria. Aqui há pratos principais que acompanham grandes histórias, como o tradicional “frango Marengo”, em homenagem ao lugar onde Napoleão ganhou uma das suas batalhas mais importantes contra o exército austríaco. Contam que após a batalha de Marengo, o chef de Napoleão não dispunha de matéria-prima para cozinhar, uma vez que os austríacos tinham intercetado provisões de alimentos para o exército francês. Razão pela qual teve de colher ingredientes entre os agricultores locais e improvisar um prato com frango, fungos e camarões de rio. O resultado agradou tanto que Napoleão pediu ao seu chef que a partir de então passasse a preparar este mesmo prato depois de cada batalha, dando assim lugar ao popular “frango Marengo”. Outro prato de grande tradição agrícola é o “ravaton”, umas pequenas almôndegas feitas com requeijão, espinafres e ovo. Os “ravaton” podem ser elaborados em caldo ou no forno. Pratos como este recordam-nos que as receitas centenárias de Alessandria continuam presentes numa herança culinária transmitida de pais para filhos.
Para viajantes ávidos de sabores doces, a famosa doçaria da província saciará qualquer expetativa. Entre as suas especialidades encontramos a sua variedade de bolachas: as "krumiri", típicas de Monferrato, sem dúvida o doce mais famoso de Alessandria, as "amaretti", também muito populares, tem praticamente a sua própria versão em cada cidade, e os "biscotti della salute", muito parecidos aos “biscotti del Lagaccio” genoveses. Não poderíamos deixar de recomendar o "Lacabòn", um caramelo artesanal com forma de pau, feito com mel, açúcar e clara de ovo.
Sem dúvida esta província convida a saborear a melhor tradição gastronómica rural e recorda-nos que para conseguir as melhores receitas, necessitamos de contar com os melhores ingredientes. E Alessandria conta com eles! Continuaremos a nossa viagem, evidentemente, com uma agradável sensação.
44.9072727, 8.6116796
Alessandría
Alessandria (Lissandria em piemontês) é uma cidade da região de Piemonte em Itália, capital da província homónima. Situa-se às margens do rio Tanaro
População: 90.532 hab.
Superfície: 203,97 kmª
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